outubro 20, 2009

Soneto de Não Amor

Em maldita vil hora te larguei
Para chocar o mundo em que me estavas
Se quando não mais te vi te chorei
Foi por saber que ao partir ficavas.

Por não chegar o amor que não tinhas
Por julgares que a mim se mo esbanjava
Faltou-te a lucidez de quem não ama
Sobrou-te o ego de quem ouro caga

Se engano algum dia considerasses
Nesse teu julgamento celeste
Se em algum dos dias me perguntasses
Que raio queria eu que me desses

Responderia eu que não demais,
morreríamos nós um dia destes.

outubro 14, 2009

Espero que ardas no fogo dos infernos todos os dias

Espero que ardas no fogo dos infernos todos os dias
Porque todos os dias te apagas
porque todos os dias se me arrefece
o calor que me escavas na cama.

Espero que me ardas no fogo dos infernos todos os dias
Porque todos os dias se te esquece
que um só dia em pouco aquece
Quem todos os dias te chama.

E se todos os dias a chama
pouco se vir com que arder
e muito lhe sobrar por esperar
de pouco ou nada valerá soprar
quando um dia noutro vento se perder.

Mas espero que ardas no fogo dos infernos todos os dias
Todos aqueles em que me consomes
o pavio da paciência,
me derretes a tolerância
nesse cúmulo gasto da inconstância
de quem não faz ideia onde arder,
de quem lavra onde ninguém o quer.
De quem só fica para não perder.

março 27, 2009

Ensaio Urgente (denominação provisória)

Por favor não me ames
Que se me amas eu desprezo
se me amas eu te fujo,
se me amas eu te nego.

Por favor não me ames
que eu sou pássaro
Se te oiço esvoaço
se te sinto eu te escapo
se te pego eu te amasso
e com grande estardalhaço
me faço pequenina no céu azul

Me faço miudinha no teu anzol.

Por favor não me desejes
que eu sou volátil,
que eu sou pulsátil
em sangue vivo de lençóis.
E em sangue vivo te deixo,
Por sangue vivo te esfolo.
E tão fundo te levo
De tão fundo te arrasto
Tanto de ti violo
que em profundo abraço
te berras a alma ao mundo.

Por favor não me ames.
Que quando te faltar o fôlego
te fizer falta o chão
Quando se te esganar a voz
Te silenciar a paixão
Vais querer voltar ao teu casulo
vais querer amar o desconsolo
vais querer que te devolva a solidão.

Por favor não me ames
que se eu te amar não querendo
se eu te desejar não podendo
o meu passarinho sem ninho
o meu navio sem farol
se afoga num ar de gritos
se voa em mares de lençol
Para não mais o procurar
para não mais me perder
em quem eu nunca quis amar.